Em primeira pessoa, a narrativa gira em torno das alegrias e perdas de uma existncia fugaz. Como o vento, que gira em torno de si – e, assim como define a vida, uma corrida atrs do vento –, tais so as vivncias despejadas na escrita. Aos turbilhes, a mineira Geny Vilas-Novas, de 73 anos, revela em O vento gira em torno de si (7 Letras) uma alma inquieta.
So histrias que tambm abordam a violncia visceral e aqueles lugares em que “os filhos choram, e as mes no escutam”. A propsito destes, a autora remexe a ferida: “Em Manaus, os prisioneiros matam uns aos outros. Faces rivais nos mesmos compartimentos. Os corpos so esquartejados, decapitados, mutilados, desfigurados, vsceras e miolos espalhados (…) A desdita campeia, tocam fogo nos telhados, faces e barras de ferro em punho. Descalos, maltrapilhos, cho de barro batido. O Brasil mostra a sua cara aos noticirios do mundo.”
H dias que comeam leves, em que “o cu azul metlico espalha uma luminosidade alegre”, mas que se encerram marcados pela imprevisibilidade da vida: o filho que cai da escada, bate a cabea e vai parar na Unidade de Terapia Intensiva. Em meio s incertezas, tantas reflexes existenciais buscam explicaes e ajuda em deuses e crenas que atravessam da Ilada, de Homero, aos Evangelhos. No raro, a narradora anuncia, ao se ver livre da sbita tormenta: “Meu corao se elevou. Entoei um salmo.”
Lançamento : "O vento gira em torno de si" de Geny Vilas-Novas
SANGUE
O vento gira em torno de si o mais recente livro desta escritora compulsiva, que assim descreve sua obra: “Meus livros so escritos com a pena, e a tinta o sangue”. Como folhas ao vento, o romance de Geny Vilas-Novas dana em torno da rotina da narradora, ao ritmo do carpe diem, pois tristes ou alegres, “temos de viver o momento e o momento esse”.
Minas uma herana que transborda ao longo de toda a narrativa desta mineira apaixonada, que hoje vive no Rio de Janeiro. “Preciso voltar sempre a Minas Gerais. Aquecer meu corao e eivar-me de foras para seguir adiante”, diz ela, que descreve as muitas Minas – ricas e pobres – que desfilam pelo Mercado Municipal de Belo Horizonte, onde se compram todos os cheiros e sabores.
“Farinha de araruta, polvilho, fub 80 81 de moinho movido a gua, urucum, aafro e os mais variados tipos e cores dos temperos. Queijos da Serra da Canastra. Cachaas de Salinas. Todos os artesanatos mineiros: bordados, cestos, entalhes em madeira. Mas o que me fez perder a cabea so as cermicas do Vale do Jequitinhonha. Chegando aqui em casa, coloco em cima dos meus mveis e fico namorando. Elas so lindas, consigo ver nelas uma transparncia que ningum v.”
Mas em Minas, desde que o Rio Doce foi soterrado pela Samarco, o luto persiste. “O Vale do Rio Doce prspero e frtil. rvores frondosas, frutos que Peixinho Dourado e eu comamos com muito gosto. Ps nativos de jabuticabas, pitombas, jatobs. Conhecamos o Stio de Cima palmo a palmo. No gosto mais de falar no Rio Doce. Sei que ele morreu e levou com ele o meu corao.”

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O VENTO GIRA EM TORNO DE SI
De Geny Vilas-Novas
7 Letras
172 pginas
R$ 49
Por , em 2020-12-29 04:00:00
Fonte www.uai.com.br
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