Rostro Delevingne com terno e mantô da Dior (Foto: Divulgação)
Os desfiles de voga para homens têm exibido, com persistência, um mix cada vez mais superabundante de elementos femininos associados aos masculinos – e/ou vice-versa. Provavelmente para se alongar do domínio do streetwear e não permanecer mais só no crush com a alfaiataria, há novidades que podem até demorar a depreender o mainstream, mas que indicam que agora talvez seja o momento em que as conotações de gênero, tradicionalmente aplicadas aos tecidos e roupas, percam grande segmento do seu sentido.
Esta novidade verdade ficou evidente nas passarelas parisienses. E a revolução dentro da transformação se deu pelas mãos do talentoso britânico Kim Jones no desfile da Dior Men. Com elegância sutil, ele se inspirou na alta-costura de Christian Dior dos anos de 1960 e, literalmente, se jogou nos arquivos da maison.
Looks do desfile de inverno 2020 da Dior Men (Foto: ImaxTree)
Dramático, o primeiro look para o show masculino do inverno 2020 foi um longo e rodopiante mantô de seda moiré com uma roseta do mesmo tecido sobre uma gola rulê de seda ricamente bordada e uma calça de alfaiataria mais justa. Causou comoção instantânea na plateia e abriu um precedente histórico: uma marca de luxo masculina do tamanho da Dior namorar e reinterpretar a opulência tradicional de outro gênero.
O padrão que abriu o desfile ainda usou longas luvas rebordadas e um brinco de pérola. A partir da couture (feminina) e com fabuloso elegância, modelagens de casacos e decorações espetaculares foram transportadas/adaptadas e tornadas fundamentais numa paleta neutra (e masculina) de beges, cinza, marrons e marinhos. Mas o que mais brilhou foi a atitude: o estilo grandioso levado com crédito casual.
Uma das luvas do desfile da Dior Men (Foto: Reprodução)
Mangas arregaçadas com displicência e o uso de luvas levaram o toque de um “dandismo” reinventado nesses tempos meio bruscos, cheios de “largação” e “deixa pra lá”. O poder da perdão feminina no conjunto de looks de alfaiataria masculina suasivo parece ser a voz de uma emancipação que vem ensaiando sua chegada em cada momento da apresentação. Não por eventualidade, na plateia, a padrão e atriz inglesa Rostro Delevingne vestia um terno e um mantozinho da coleção desfilada na passarela.
Outra pista para a feminização da voga Dior Men é a homenagem ao designer de joias e estilista Judy Blame, morto recentemente. Camarada de Kim Jones, Blame foi, junto com o cantor Boy George e o artista e performer Leigh Bowery, importante referência da cena clubber/fashion e músico dos anos de 1980. Rebeldes, eles também foram disruptores dos papeis tradicionais de gênero, abrindo caminho e espaços para as evoluções LGBTQ+.
Looks do desfile de inverno 2020 da Dior Men (Foto: ImaxTree)
O mais notável no desfile da Dior, entretanto, é a surpreendente habilidade com que Jones consegue unir o feeling ao chique, dissolvendo, de um jeito oriundo, barreiras de classes e categorias. É porquê se toda a exclusividade e nobreza da alta-costura coubesse democraticamente em qualquer lugar.
E essa novidade maneira de vestir também atrai, inesperadamente, um número cada vez maior de mulheres fashionistas, que têm comprado mais e mais peças e acessórios Dior Men – entre outros itens originalmente desenhados para homens – para renovar seus closets. Um sucesso. Finalmente, para o olhar do momento, roupas não têm sexo até o momento em que são vestidas.
Looks do desfile de inverno 2020 da Dior Men (Foto: ImaxTree)
Looks do desfile de inverno 2020 da Dior Men (Foto: ImaxTree)
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Por , em 2020-03-22 08:06:00
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